Andrew/Deirdre
2 min readMay 28, 2020

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Relicário da mudez.

Se me assopram, mãe, eu agito as minhas partículas feito a poeira que paira num pedaço de sol. As vezes a doença me visita, o seu nome é reticências… um longo caminho de espera entre o aqui e o lá. Um lugar que não pertence ao sagrado minuto, nem aos mistérios do limbo. Um passo dado a cada ponto sem nenhuma base de certezas.

Me aquieto.

É necessário que eu me aquiete.

Busquei no caos do que poderia ser a minha força uma espiral sem fim de pesadelos. Me exauri. Chega. Eu coloquei uma reticência, embora fosse a minha doença, não havia, naquele momento, temor.

A reticência é um não-lugar por onde habita a minha fragilidade. Quilômetros de espasmos e estafas de intensidades variadas. Quieto. Silêncio.

Eu vago, mãe, para que cumpra a promessa do ponto parágrafo. A minha cura tem nome de ponto final. Fim da história. A reticência me deixa num estupor desgovernado, que tenta me levar de volta para o momento em que me assopram e eu me desfaço em pó.

O ponto parágrafo é uma incumbência. É caos bem ordenado. Existe um elixir a cada ponto final que eu procuro encontrar no como que se faz, no como que se chega na alegria banal do fim exato, ainda que aberto, do meu acaso.

Só me curo quando a ocasião do ponto é o parágrafo correto onde reside a quietude para a minha alma. Silêncio. Me regenero.

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